Capítulos (1 de 16) 16 May, 2023

003 - O Bar

Era noite quando Joanne chegou ao bar local que frequentava regularmente. O barman já conhecia seu pedido habitual: um chope gelado, perfeito para uma sexta-feira à noite após uma semana exaustiva. Ela planejava passar o resto da noite ali, sem esperar reencontrar o mesmo homem misterioso que conhecera alguns dias antes.

Henri notou o pequeno vestido vermelho que ela usava, assim como a cor do batom em seus lábios. Contudo, naquela noite, ele não foi o único homem a perceber quando ela se sentou no bar.

"Boa noite", cumprimentou o jovem desconhecido, aproximando-se dela com um sorriso. "Você é linda, sabia?"

"Obrigada", respondeu Joanne. Bastou um segundo para que ele adulterasse sua bebida, tornando-a desinibida o suficiente para levá-la a um local mais reservado. Ele passaria a noite ali com ela, aguardando que a droga fizesse efeito. Afinal, naquela noite, a presa escolhida era uma mulher que nunca aceitava sair com nenhum homem.

"Quer ir para casa comigo?" propôs ele, tocando sua coxa enquanto ela o encarava confusa.

"Não... É melhor não... Eu..."

"Achei que estivesse a fim", insistiu ele, segurando-a enquanto ela fechava os olhos, sentindo-se tonta.

"Não... Não estou me sentindo bem..."

"Vamos, você vai gostar."

"..." Ele a tirou do banco, e Henri observou-a, notando seu desaparecimento. Ele a procurou no bar e a viu abraçada a um desconhecido do lado de fora.

"Eles estavam flertando", suspirou Henri, levemente decepcionado, levantando-se para segui-los.

"Por favor... Me solta..." ela tentou resistir enquanto ele a pressionava contra a parede, e Henri, em um acesso de fúria, socou o homem. No entanto, Henri mal recordava o momento exato de sua chegada; tudo o que percebeu antes de recobrar a razão foi um homem extremamente irritado golpeando outro. Henri segurava o agressor pelo colarinho, e, ao recobrar a lucidez notou ela sentada no chão.

"Ainda está viva", constatou ele, abaixando-se para tocar seus pulsos. "Nem mesmo uma suicida precisa de uma experiência dessa."

Henri a carregou nos braços e a levou para seu carro, dirigindo até seu apartamento na cobertura. Ao colocá-la na cama e cobri-la, notou os cortes em seus pulsos, tocando-os com delicadeza.

Chovia quando o efeito dos remédios finalmente se dissipou, e Joanne acordou em um lugar desconhecido. Muitos pensamentos passaram por sua mente naqueles poucos minutos, reconhecendo que fora drogada, mas incerta do que aconteceu enquanto estava inconsciente. Ao abrir os olhos, deparou-se com Henri entrando no quarto.

"Está tudo bem. Você está segura."

"Como eu cheguei aqui?" indagou Joanne, confusa e chorando, enquanto Henri buscava uma garrafa de água.

"Eu te trouxe para cá, Joanne. Você foi a um bar, bebeu uma cerveja adulterada, foi dopada com boa noite Cinderela."

"Eu..." ela olhou para as roupas, entrando em pânico.

"Ninguém te tocou, nem eu." Ele lhe entregou a garrafa d'água. "Está lacrada, você precisa se hidratar." Ao tomar um gole, Joanne deixou as lágrimas caírem e sentou-se na beira da cama.

"Você pode chamar um táxi?"

"Claro." Ele pegou o telefone ao lado da cama e a segurou quando ela cambaleou tentando se levantar. "Não acho bom você sair sozinha. Eu te levo para casa."

"Não precisa, não quero ficar dando trabalho."

"Vou me sentir culpado se você se machucar por aí." Ela o olhou enquanto permanecia nos braços dele, e ele notou a magia dela o atraindo.

"Obrigada..."

"Não precisa me agradecer." Ele a pôs na cama. "Eu notei que tinham posto algo na sua cerveja. Se eu deixasse aquele homem te levar, eu teria sido conivente." Ele a pôs na cama a examinando. "Provavelmente foi algum GHB ou Ketamina."

"São remédios para dormir. Você é um médico?"

"Sim, você quer ir até um hospital?"

"Não precisa..." Ela tocou os pulsos, os alisando, e ele notou.

"O que aconteceu?" Ela demonstrou um pouco de medo dele, recuando.

"Nada... Ninguém acredita mesmo quando conto." Ela voltou a tomar água, e ela voltou a cochilar. Ele a observou em silêncio enquanto voltava a sentir os dedos doendo, e eles os olhas.

"Nunca bati em ninguém desse jeito, o que deu em mim?" Ele pegou a maleta médica, cuidando da mão enquanto a enfaixava. Henri a levou para casa. Henri a leva para casa e ele observa a luz do apartamento dela acendendo enquanto ele permanece no carro.

Na tarde seguinte, enquanto Joanne decidia ir à universidade, ainda chovia torrencialmente. O caminho até lá era relativamente curto, dez ou onze quadras, pensou ela, cerca de dez minutos de caminhada se usasse sapatos fechados e dessa sorte. Antes de sair, arrumou-se cuidadosamente como fazia todos os dias, colocou comida e água fresca para a gata e verificou se os aquecedores estavam desligados.

O carro que a trouxera na noite anterior estava novamente ali perto. Ela o encarou por alguns minutos e pegou o caminho para o trabalho quando ele ligou o motor, se aproximando dela e abrindo o vidro.

"Entre, senhorita."

"Não." Ela o encarou com raiva.

"Queria entender por que você sempre está com raiva de mim? O que eu fiz de errado?"

"Eu não estou com raiva."

"Vamos. Te deixo no trabalho, só queria confirmar que realmente está bem."

"Eu não confio em você, você é um estranho."

"Você estava dopada ontem e dormiu por quase 1 hora na minha casa. Se eu quisesse ter feito algo, eu teria feito, e você nem saberia."

"Imaginei... Você não é diferente dos outros homens."

"Te garanto, não preciso dopar uma mulher para ter sexo com ela." Ele destrava a porta no carro, e ela entra o olhando. "E você nem faz o meu tipo, eu prefiro loiras."

"E eu prefiro mulheres." Ele a olha surpreso.

"Okay, não esperava por essa." Ele desce na universidade com ela, que continua emburrada. "Você tem algum tempo ou precisa ir para alguma aula?"

"Ainda tenho cerca de meia hora." Ela caminha em direção à cafeteria, onde compra dois cafés. "Novamente, obrigada por ontem."

"Não foi nada."

"Eu fui ingênua como sempre."

"Eles teriam feito aquilo independentemente de você ter quase trinta anos ou dezoito."

"Eu sei. Nem sei o que teria acontecido se você não estivesse lá."

"Poderia acontecer entre você ser estuprada ou ter um rim roubado."

"Você já atendeu algum caso assim?"

"Muitos."

"Você se formou bem jovem pelo modo."

"Eu terminei a residência aos 25 anos. Você é mestre ou doutora?"

"Doutora."

"Se formou há muito tempo?" Ela o olha, fazendo as contas mentalmente.

"Seis ou 7 anos."

"Aposto que dá aulas aqui desde então."

"Só dois anos."

"Bom, você ainda é jovem." Ele toma o café.

"Parece que sim." Alguns alunos veem os dois conversando.

"Aquele não é o cara novo?"

"Sim."

"É sério que ele está tomando um café com ela? Aquele velho."

"Tem mulheres que apreciam velhotes." Ele dá de ombros. "Supera, ela não ia querer você mesmo."

"Eu ainda tenho o seu lenço." Ela o tira da bolsa, entregando a ele.

"Pensei que já tivesse jogado fora."

"Pensei diversas vezes em fazer isso." Ele pega o lenço, olhando-o. "Mas imaginei que fosse especial, já que algo que sua mãe te deu."

"É sim." Ela lhe entrega o lenço, tocando as faixas da mão dele.

"Machucou muito?"

"Relaxa, já tive brigas piores."

"Claro."

"Seus pais vivem por aqui? Seria bom passar um tempo com eles, sabe." Ela sorri, enquanto ele se cala.

"Não conheci meus pais."

"Eu sinto muito."

"Tudo bem."

"Com quem você cresceu? Um orfanato talvez?"

"Não, minha avó cuidou de mim e do meu irmão mais velho."

"Então você tem um irmão."

"Tenho, mas ele vive na Alemanha com o namorado. E você tem irmãos?"

"Tenho 4. Três irmãs mais velhas e um caçula insuportável." Ele revira os olhos enquanto ela ri.

"Não fala isso do seu irmão."

"Eu desejo que você nunca o conheça." Ela o sorri. "Você desejaria envenenar ele." Ela ri.

"Tem mais algum Henri Gainer na sua família?"

"Não que eu saiba, por quê?"

"Porque eu conheci alguém com esse nome alguns anos atrás e talvez os olhos âmbar sejam uma característica da sua família."

"Eu sou o único com esses olhos na minha família." Ela o observa em silêncio. "Como ele era?"

"Ahhh. Espera." Ela pega um caderno na bolsa, folheando-o. "Eu tomei alguns cafés com ele e gosto de desenhar as pessoas." Ele olha o desenho do homem e pega o telefone, fazendo uma ligação numa língua que ela desconhece.

"Você o viu novamente?"

"Não. Quem é ele?"

"Um assassino do Clã negro, parece que está desaparecido há três anos." Ela permanece em silêncio. "É um milagre você estar viva." Ela sorri.

"Um dia Deus vai se cansar da minha cota de milagres." Ele ri, e ela ri com ele, e eles sorriem se olhando enquanto permanecem mudos, se encarando. Ela prensa os lábios, enquanto ele toca seus dedos sendo carinhoso, e ela entreabre os lábios e nota o relógio atrás dele.

"Desculpa, eu preciso ir." Ele sorri, enquanto a vê saindo apressada, e ele olha o guarda-chuva. 

"Doidinha." Ele ri, pegando o guarda-chuva.

Henri retorna para Gorean, entregando o último relatório à mãe, e ela o lê, analisando.

"Realmente não tem nenhuma garota na faixa dos 22 anos lá fora que seja a princesa?"

"Não que eu tenha encontrado, seria fácil rastrear a futura Suprema, daria pra sentir o poder dela a quilômetros. Encontrei duas bruxas enquanto estive procurando por ela. Uma criança de 7 anos e a mãe dela."

"Que idade a mãe tem?"

"35 anos. O pai também é bruxo e tem a mesma idade."

"Dois bruxos vivendo no mundo não-mágico?"

"Parece que eles preferem assim. Claro que aquela criança vai precisar vir para cá em breve."

"Qual o nome da família?"

"Campbell. A criança se chama Julia Ostrov Campbell."

"Russos?"

"Brasileiros. Um país na América do Sul."

"A família poderia ser um sobrevivente de Salém?"

"Não são. Eu pesquisei."

"Quando você volta para Gorean?"

"Em 4 meses. Preciso cuidar de um assunto lá fora." Verônica toca o rosto dele, o tocando, e ele se surpreende, ficando em silêncio.

"Um assunto ou uma mulher?"

"Uma mulher. Uma não-magi."

"Vocês estão namorando?"

"Não, ela é gay."

"Gay?!" Ela o olha confusa.

"Ela sai com meninas."

"Talvez ela só esteja experimentando a sexualidade dela..." A mãe o nota levemente decepcionado. "Você está apaixonado, deveria dizer a ela como se sente. Um casamento mestiço nunca foi proibido."

"Eu sei, mas eu não quero arriscar que aconteça a mesma coisa com ela. Não sei se eu suportaria me casar só para ver outra mulher sofrer."

"Não foi sua culpa, ela estava doente e todo mundo aqui ignorou."

".... Eu sei... Por um tempo pensei que ela pudesse ser quem procuramos, mas a idade não bate."

"Ela pode ter mentido?"

"Não me surpreenderia. Ela já mentiu uma vez." Ele passa alguns dias em Gorean, onde visita uma estudante, e ele leva doces para ela, que o abraça feliz.

"Você trouxe mesmo." Ela abre o saco de doces, os comendo, e ela tira as luvas enquanto permanece no colo dele.

"Sempre cumpro minhas promessas, Lira."

"Eu sei." Ele suspira, olhando a paisagem enquanto faz carinho nela. "Quem é ela?"

"Ela?"

"A mulher que você está apaixonado."

"Uma não-magi. Mas não estou apaixonado."

"Como ela é?"

"Bonita, esbelta, tem minha idade, olhos azuis claros e cabelos castanhos como o seu. Deve ter sua altura também."

"Ela gosta de você também?"

"Ela gosta de meninas."

"Que pena. Você também disse que sempre preferiu as loiras."

"Talvez seja minha maldição, gostar de uma mulher que não tem nada do que eu goste e que ainda seja gay." Lira ri, enquanto se senta ao lado dele.

"A nossa maldição." Ele ri.

"Bom, vamos fazer um acordo então. Se você chegar aos 30 sem ninguém. Eu me caso com você."

"Eu vou ser muito nova para você."

"Eu vou ter 44 e vou continuar com esse rostinho de 30. E você ainda vai virar uma mulher linda."

"Okay... Mas a Melissa vai me matar se ela souber."

"Melissa é uma princesa. Não tenho permissão nem para tocar, imagine beijar uma princesa."

"Sei muito bem o que acontece se uma princesa for tocada por mãos de um plebeu, elas devem ser virgens até o casamento e somente podem ter filhos de outro príncipe. E mesmo que vocês apenas tenham relação sexual, o seu cheiro fica gravado na gente para sempre. Dormir com uma é pedir pra ter a vida encurtada."

"Eu vou para a fogueira." Ela ri dele enquanto olha o pôr do sol. "Deveríamos voltar."

"Sim." Ele pega o apito, o usando, e o pássaro corta as nuvens, pousando enquanto ele se levanta, ajudando Lira a montar, e ele monta, a levando para o castelo enquanto ela o agarra. "Quando vou ganhar minha águia?"

"Quando fizer 21 anos e achar uma que seja órfã ou que te aceite."

"Que injusto."

"Não é injusto. Elas são criaturas livres e cuidar delas é trabalhoso." Ele chega ao castelo, a deixando na varanda do quarto dela, onde desce, e ele vai embora, pousando com a Águia.

"..." Ela o observa em silêncio, e ele toca seu bico, a olhando.

"Mais 4 meses e aí seremos nós dois novamente." Ele a deixa ir embora e retorna ao mundo não-mágico.


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