Capítulos (2 de 16) 05 May, 2023

001 - O Vínculo

O sol brilhava intensamente quando Joanne Paige embarcou no trem, com destino à Alemanha, naquela tarde movimentada. A estação, como sempre, estava repleta de pessoas indo e vindo do trabalho. Joanne, intrigada, observava a diversidade ao seu redor enquanto desenhava em seu pequeno caderno de notas.

Notavelmente bonita para sua idade, Joanne possuía olhos azuis que destacavam-se entre seus cabelos castanhos escuros. Tinha se mudado recentemente para um pequeno apartamento na França, acompanhada de sua gata, enquanto ministrava aulas temporárias em uma universidade local. Seu amor pela França, pela culinária e, acima de tudo, pela arte, a motivara a seguir esse caminho.

Naquela tarde, talvez desafiando o destino, um homem que entrou no mesmo trem capturou a atenção de Joanne. Ela não pôde deixar de notar seus olhos dourados, evocando lembranças de sua infância na Alemanha, das abelhas que ela e sua avó criavam. Os olhos dele, em um tom de mel claro, remetiam a panquecas e manhãs felizes.

"Âmbar", sussurrou ela, perdendo-se no olhar dele por um tempo além do desejado. Âmbar lembrava-a da infância e das memórias preciosas.

"Boa tarde", Joanne notou que tinha permanecido encarando o estranho por um período indeterminado. Tempo suficiente para que ele percebesse seus olhos azuis observando-o.

"Boa tarde", respondeu ela, desviando o olhar para seu bloco de notas quando ele se sentou no banco à sua frente. Ela tentou evitar encará-lo pelo restante da viagem, sentindo-se constrangida demais. No entanto, uma coisa era inegável: o homem diante dela era estranhamente atraente.

"Infelizmente, ele nunca me notaria", pensou Joanne, reconhecendo que nenhum homem havia notado sua presença até aquele dia.

Henri, o homem alto e forte, estava sentado à sua frente, lendo um livro de poesias adquirido horas antes em uma loja na estação de trem. Nascido sob a bandeira da Casa dos Gainer, sempre se sentira diferente dos irmãos devido aos olhos dourados, algo incomum no Clã de Lighting ao qual pertencia.

Olhos dourados como os dele pertenciam aos Darkling, um Clã exilado ao norte. Henri, porém, nunca questionara a verdadeira identidade de seu pai, mantendo-se leal à família. Perto dos 30 anos, trajava o uniforme dos membros não-magi, mas sua vaidade o levava a colecionar sobretudos de marcas famosas, atraindo olhares femininos que ele ignorava desde a trágica perda de sua esposa.

Desde então, Henri jurara não se envolver em outro relacionamento. Evitava causar mais sofrimento, pois sua ausência constante tornava impossível cuidar de uma família.

Fiel aos votos que fez, Henri cedeu à atração quando seus olhos encontraram os daquela mulher. Joanne, uma não-magi, tornou-se o objeto de sua atenção durante as oito horas de viagem. Sua alegria a contagiava, fazendo-o desejar sorrir também. Considerou perguntar seu nome, pois um simples nome seria suficiente para rastreá-la. No entanto, a incerteza pairava sobre a possibilidade de encontrá-la novamente quando o trem chegasse ao destino.

Pontualmente, o trem chegou à estação conforme previsto. Joanne levantou-se para pegar sua bolsa, que Henri prontamente entregou.

"Merci. Ah, Thank You", sorriu ela, enquanto Henri mantinha a mesma expressão.

"Não foi nada", respondeu ele. Joanne partiu em direção à saída, onde Henri a observou sendo abraçada por um homem alto e de traços alemão, completamente diferente dele.

Joanne dirigiu-se ao hospital, onde sua avó, sua única família conhecida, aguardava. Durante a viagem de carro, a inquietação tomou conta dela, o coração apertando-se. Finalmente, reuniu coragem para perguntar.

"Como ela está?"

"Lúcida e acordada. Mas prepare-se, Joan. Sabemos que ela não é mais tão jovem."

"Eu sei...", Joanne mal conseguiu terminar a frase, lágrimas escorrendo enquanto fechava os olhos. "Eu vim o mais rápido que eu pude."

"Nós sabemos."

"Eu não deveria ter ido embora."

"Você foi atrás da sua vida. Não poderia ficar presa para sempre em uma cidade com apenas 5 habitantes."

"Eu poderia sim...", ele parou o carro, entregando-lhe uma caixa de lenços.

"Vamos vê-la."

"Ainda não é horário de visitas."

"Já expliquei a situação para o hospital. Provavelmente, ela não sobreviverá à noite. Se esperarmos até o amanhecer, talvez seja tarde demais para falar com ela." Ele tocou o rosto dela com carinho. "Estarei com você o tempo todo."

Enquanto Joanne entrava no hospital, o guardião de olhos dourados atravessava um portal, retornando ao seu reino, onde sua mãe o aguardava.

"Que as deusas o protejam."

"Que as deusas a protejam." Ele abraçou a mãe, cumprimentando-a. "Estou curioso para saber por que fui convocado aqui no meio de uma missão."

"Outros irão capturar aquele homem. O que tenho para você é algo que somente você pode concluir."

"E o que seria?"

"Trazer nossa Suprema de volta para casa." Ele lançou um olhar sério à mãe.

"Eu sei o que prometi, mas eu tinha 7 anos. Eu era uma criança e nem sei como a Suprema seria hoje em dia."

"Infelizmente, não posso ajudá-lo com isso. Ela era apenas um bebê." Ele fechou os olhos, praguejando em voz baixa.

"Eu irei. Mas espero que o pagamento seja decente desta vez."

"Será." Ela tocou o rosto dele. "Quem sabe depois disso, você possa se casar e me dar netos."

"Nem pensar, você já sabe minha opinião sobre isso."

"Alynna estava doente, ninguém aqui percebeu. Não foi sua culpa."

"Sabemos muito bem o que a deixou doente." Continuaram a conversar enquanto, no mundo não-magi, Joanne via sua avó pela última vez. Antes disso, descobriria porém a verdade sobre seu nascimento.

"Vovó."

"Oi, minha florzinha, você veio."

"Sim, me perdoe por demorar tanto."

"Não tem problema. Eu tinha algo que precisava lhe dar, e não poderia ser por carta." Ela tirou o colar do pescoço, entregando-o à neta.

"Vovó..."

"Isso agora é seu. Guarde com cuidado."

"Claro, eu irei."

"Lembra de quando você era criança e eu contava a história de uma pequena princesa bruxa que foi obrigada a viver entre os mortais?"

"Numa noite fria, uma rainha deu à luz a uma menina enquanto do lado de fora do reino uma batalha devastadora acontecia. Quando o castelo foi invadido pela irmã ciumenta, a rainha mãe ficou para tentar deter sua irmã, enquanto a rainha vó a levou para um reino no sul, acompanhada de 300 soldados." A senhora sorriu, olhando para Joanne. "Eu ainda me lembro; às vezes, eu fantasiava ser a princesinha."

"E você é, Joanne. A criança na história é você."

"Isso faria de você a Rainha Vó."

"Sim."

"Não sou uma princesa."

"Sim, você é... Seu nome de nascimento é Mirella de Lurthon, filha do Rei Cervie Craine de Lurthorn e da Princesa Elenor Rossi." Ela se calou, prestando atenção na neta. "Um dia, um homem vai encontrá-la. Ele era um garotinho de cabelos pretos e olhos âmbar chamado Henri Gainer, e ele tem um broche de ouro com esse símbolo."

"Henri Gainer??" Ela mostrou o colar.

"Ele não deve ser mais velho que você hoje em dia. Quando o encontrar, confie nele para levá-la para casa, mas cuidado com o lobo em pele de cordeiro."

"Como saberei se ele é quem diz ser?"

"Seu coração saberá, e o dele também, porque vocês nasceram para ficarem juntos."

"Tudo bem."

"Quando se encontrarem, me leve para casa. Eu gostaria de ser enterrada com minha família."

"Claro, vovó." Ela fechou os olhos, e os aparelhos apitaram. Joanne segurou a mão dela, chorando.

"Vovó?" Ela tocou o rosto da idosa. "Por favor, não me deixe sozinha." Ela deixa as lágrimas caírem, enquanto os médicos tentavam ressuscitá-la. O rapaz que a acompanhava a segurou, e seus poderes foram sentidos pelos dois reinos, enquanto a magia dela desaparecia ao desmaiar.

"Vai ficar tudo bem, Joan. Vai ficar tudo bem." Ele a abraçou, enquanto seus poderes permaneciam eram sentidos pelos dois reinos.

"Mirella?" Henri olhava em direção ao portal, sentindo a energia desaparecer. Mirella estava viva em algum lugar lá fora, e ele sabia que quanto mais tempo demorasse, pior seria para encontrá-la. 

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