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Capítulo 5

Capítulo 5: Família Akamura

Sexta-feira, 15 de outubro de 2023, 6:40 h.

Mesmo tendo dormido bem, acordei cansado. A vontade era de permanecer deitado, mas me obriguei a sair da cama. Fui ao banheiro e me olhei no espelho, eu estava pálido. Seria o primeiro dia nos últimos anos que eu não veria minha companheira de elevador, isso me entristecia. Entrei no chuveiro e tomei um banho demorado, ficando de braços cruzados, deixando a água acumular entre meus braços, enquanto um turbilhão de pensamentos passava por minha mente. Depois de dez minutos, sai do banho e fui para o quarto me arrumar.

– BOO!! – Roku surgiu com seus olhos vermelhos e um sorriso macabro no escuro em minha frente, tentando me assustar.

Acendi a luz tranquilamente, ignorando o susto.

– Bom dia. – Peguei meu uniforme que estava na cadeira da escrivaninha, da qual ao lado estava o cobertor embolado, o que me fez lembrar de Suski.

– Está bem, Ty? – O tom de voz do fantasma estava diferente, estava apreensivo.

– Sim.

– Pensei que se animaria... – Percebi que ele ficou decepcionado ao ver que o susto não funcionou. A intenção dele não era realmente me assustar, mas me animar já que sempre acabávamos rindo juntos depois de brigarmos por causa de um susto.

Já pronto, me atirei de costas na cama, ficando encarando o teto. Batidas na porta me tiraram do meu transe.

– Quem pode ser? – Fui até a porta, pegando a mochila em cima do sofá antes de ir abri-la.

Fiquei surpreso ao atender e ver quem era.

– Estou esperando a quase quinze minutos aqui fora e nada de você sair. Se sairmos tarde vamos nos atrasar para a escola. – Disse Charlote, parada em minha frente.

– Charlote?

– Vamos, não fique ai de boca aberta.

Roku parou ao meu lado.

– Ela está diferente. Se parece muito com a Suski quando se arruma...

– E então? – Acordei com as palavras de Charlote.

– Cla-claro. Vamos indo. – Chaveei a porta e fui rumo ao elevador, mas ela me puxou pelo braço.

– Só precisa descer uma leva de escadas, não seja preguiçoso de pegar elevador.

– Mas...

– Nada disso. Você tem deixar de ser um nerd sedentário se quiser ter chance de se tornar o Rei de Eternia.

– Mas...

– Vamos, vamos. Você pode cansar no começo, mas depois vai passar a gostar.

Apenas a olhei e minha tristeza diminuiu. Perdi a companheira de elevador, mas ganhei uma companheira de escada. Não que Suski fosse apenas uma ferramente a ser substituída, mas por algum motivo, estando com Charlote, me sentia da mesma forma de quando estava com Suski, como se fossem a mesma pessoa.

9:55 h.

A aula acabou sendo apenas para apresentação dos trabalhos em grupo. O nosso foi o primeiro. No intervalo, estávamos todos juntos deitados na grama embaixo da árvore no pátio, foi então que uma sombra me cobriu. Ao abrir os olhos, vi Kiria parada em minha frente.

– Kiria?

– Venha comigo. – Ela virou as costas e saiu andando.

Levantei e a segui até a parte de trás do ginásio, onde ficamos sozinhos.

– O que foi? – Olhei para ela com pressa de voltar para minha sombra.

– Há um garoto novo na escola, ele foi transferido recentemente para cá.

– Transferido em outubro? É final de ano praticamente.

– Claro que não foi uma transferência comum. Ele é suspeito, não vejo nenhum espírito com ele, mas seu olhar é de alguém que já derramou sangue.

– O olhar dele? – Repeti com certo sarcasmo.

– Estou falando sério, Tyson! Você já ignorou meu aviso de ontem e quase morreu por causa disso! Esse garoto tem uma pressão espiritual em volta dele fora do normal. Desconfio que seja um invocador.

– Tá, espera ai. Retrocedendo um pouco. Que aviso que você me deu ontem? Nem nos falamos.

– O bilhete que eu te dei. Você não leu?

Me veio a mente a lembrança: “Ty. Leia atentamente.”

– Então era isso...

– Ela te pegou parceiro. – Zombou Roku.

– Algum problema? – Kiria percebeu que fiquei com o olhar vago por um instante.

Soltei um leve suspiro, ficando sério.

– Kiria, me responda algo com sinceridade.

– Hum? – Ela cruzou os braços, estranhando.

– Você sabia que Suski era um espírito guardião?

– Suski? A garota da minha turma?

– Sim.

– Hum... Isso explica o karma que emanava dela... Achei que fosse uma invocadora. – ela segurou o queixo enquanto pensava, me fitando em seguida – Não, eu não sabia que ela era um espírito. Isso quer dizer que deve existir algum invocador muito habilidoso por ai, para conseguir manter seu espírito guardião materializado o tempo todo e a distância. Deve ser alguém muito forte, temos que tomar cuidado.

– Hum. Apenas queria saber se você já sabia sobre Suski e havia decidido não me contar mesmo vendo que eu estava...

– Não, eu não sabia. São poucos invocadores que conseguem ver as veias de karma, conseguindo identificar espíritos e invocadores facilmente. – ao terminar, ela descruzou os braços e me olhou com expressão de espanto – Espera ai! Você... Com um espírito?!

– Be-be-bem... Eu não sabia que ela era um fantasma!!

– Quê?! Como você não percebeu ao fazer... Aquilo, com ela!

– A-a-aquilo?! – finalmente entendi – Waa! Não! Não! Não!! – falei saucindo as mãos freneticamente – Você entendeu errado! Nós não fizemos... Aquilo!!

Kiria cruzou os braços e desviou o olha, com seu rosto envergonhado.

– Não que me interesse. Você faz o que quiser com quem quiser.

– Se deu mal em parceiro. – Debochou Roku pondo seu braço em volta de meu pescoço.

– Não enche... – me recompus – Que tal voltarmos a falar sobre o aluno novo?

– Não há muito o que falar ainda, apenas queria lhe alertar para não baixar sua guarda.

– Ok.

– Hump! – Ela passou por mim indo embora, mas a segurei pelo pulso, que a fez me olhar com uma mistura de surpresa e raiva.

– Kiria. Obrigado. – A soltei.

– Não me agradeça, um dia você será derrotado por mim ou meu prometido.

– Então por que me ajuda? – Ela corou e saiu a passos largos, sem responder.

Voltando para o pátio, um garoto estranho de olhos azuis e cabelo negro, com uma mecha vermelha na franja, me parou.

– Com licença. Você é Tyson, não é?

– Sim. Quem é você? – O olhei desconfiado, enquanto ele sorria de forma inocente.

– Você tem um guardião assustador. – Ele apontou diretamente para Roku flutuando ao meu lado.

Gelei ao perceber que ele também era um invocador. Deveria ser dele que Kiria havia falado.

– Quem é você e o que quer comigo? – Fechei as mãos, pronto para qualquer movimento. Ou assim pensava, até que uma espada surgiu em meu pescoço pelas costas.

– Ty! – Roku fez menção de me ajudar.

– Se mexa, e eu corto o pescoço de seu mestre. – Ameaçou o espírito atrás de mim.

Como eu posso sentir o ferro da lâmina em meu pescoço, se ele estava em sua forma fantasmagórica? Que tipo de poderes este invocador tem? Eu estava em uma situação bem ruim.

O garoto começou a gargalhar.

– Pode soltá-lo, Aegir. – o espírito desapareceu, sumindo assim a lâmina em meu pescoço. O garoto estendeu a mão em minha direção – Me chamo Ian Rossew, prazer em lhe conhecer, Tyson Akamura. Estou procurando a muito tempo por você.

– Vou esmagar esse sorriso irritante dele!! – Roku fez menção de avançar contra Ian, mas coloquei meu braço em sua frente, sinal para parar – O que foi Ty? Esse maldito chega todo metido! Vamos dar uma lição nele!

– Não. – olhei para Roku de canto – Apenas fique alerta.

– Desculpe por aquilo, é que Aegir é muito sensível a intenções violentas, você deve ter pensado em me atacar para ele ter agido sem minhas ordens. – o garoto sorriu de forma despreocupada – Em todo caso, espero que possamos ser bons amigos. Lamento por sua família.

– Eu não sei quem você é, mas meu nome é Tyson Lavinier.

– Não, não. O casal Lavinier era apenas seus pais adotivos. Você na verdade é o último herdeiro da família Akamura, uma importante família entre os invocadores. O primeiro e o último Rei de Eternia foi seu antepassado, o qual usou o poder de Eternia para criar o conhecimento que hoje chamam de tecnologia, tirando o mundo da escuridão da ignorância e barbárie.

– Bela história, você daria um bom jogador de RPG. Agora vou indo. Té. – Virei as costas e o deixei para trás acenando para mim, voltando para a árvore onde eu estava antes, mas as garotas já tinham ido embora.

10:30 h.

As apresentações acabaram, então o professor liberou a classe para fazermos o que quiser na escola. Muitos foram para a cantina, outros para a biblioteca e a grande maioria para a sala dos computadores. Apenas meu grupo e outros quatro colegas foram para o ginásio.

– Ah... Que chão fresquinho. – Estávamos atirados no chão, enquanto os colegas do outro grupo mexiam no celular, sentados na arquibancada. Raquel se espreguiçou, quase dormindo.

– É tão bom ficar deitado no chão depois de completar uma tarefa difícil. – Resmunguei de olhos fechados.

– É... – Concordaram comigo.

Abri os olhos ao ouvir o som da porta ser aberta as pressas e fechada com força.

– Droga! O que vocês estão fazendo aqui?! Era para o ginásio estar vazio!! – Gritou a voz feminina estérica.

Sentamos para ver quem era. Reconheci Kiria, ela tinha um sangramento em seu ombro e seu uniforme estava com diversos rasgos. Levantei e corri até ela.

– O que aconteceu?!

– Tire todos daqui! Rápido!

Um estrondo ecoou pelo ginásio quando a porta foi partida em duas, indo ao chão.

– Que merda é essa?! – Gritei assustado.

– Tarde demais... – Os olhos de Kiria ficaram fixos na porta.

Ela preparou sua katana, na qual Penelope encorporou, deixando a lâmina com uma aura roxa.

– Pessoal! Saiam daqui pela porta de emergência! – Gritei para meus colegas, assustados.

Alguns correram, mas Pirsla ficou paralisada de medo quando viu um enorme monstro de chifres, com cabelos brancos que caíam sobre seus olhos totalmente brancos, os quais nos encaravam de forma selvagem enquanto mantinha sua mão sobre o cabo de uma das três espadas na parte de trás de sua cintura.

– Droga... Penelope! Força total!! Hwaa!!! – Kiria avançou contra o monstro, o qual a lançou longe contra a parede com apenas um tapa, deixando-a inconsciente.

– Kiria!! – estendi a mão para o alto – Roku!! – fiquei esperando, mas nada aconteceu, então o olhei furioso – Roku, rápido!!

– Não sei como fazer aquilo de novo!

– O quê?! – O monstro desferiu um soco em minha direção, o qual defendi com os dois braços cruzados, derrapando para trás.

– Ty!!

Cai de joelhos, com meus braços tremendo.

– Ele é forte...

Roku correu até mim e deu um tapa em minha mão, se materializando. O monstro desferiu outro soco, mas Roku me empurrou, me tirando da frente do enorme punho do monstro. Esbanjando agilidade, Roku subiu pelo braço da criatura, chegando ao rosto e desferindo um soco no meio da testa, que fez o monstro se desequilibrar para trás. Na sequência, Roku desferiu um chute, mas o monstro mordeu a perna dele, prendendo-o.

– Droga! – O monstro levou a mão contra o próprio rosto, em um soco para destruir Roku.

– Ty!

Olhei para trás para ver quem me chamava. Charlote corria em minha direção.

– O que está fazendo aqui?!

– Te trouxe isso. Fiz ontem usando o karma que me restava concentrado que sustentava meu espírito guardião. Use-o, irá lhe ajudar. – Ela me entregou uma corrente com uma cruz pendurada.

– Ok, obrigado. – Coloquei a corrente.

Quando o monstro esmagaria Roku, ele se desmaterializou e fugiu, fazendo o monstro golpear o próprio rosto e cair.

– Agora você morrerá! – Roku investiu com tudo, mas o enorme espírito sacou sua espada bem na hora com uma velocidade incrível, deixando Roku sem meios de desviar – Merda!

A espada foi bloqueada no ar antes de atingir seu alvo, então uma esfera de energia verde cruzou o ar, derrubando o monstro ao atingi-lo no peito.

– Esse cara está dando trabalho. – Disse a voz se aproximando de mim pelo lado.

– Ian?

Ele me acenou sorrindo.

– Olá Tyson. Vamos ter que juntar nossas forças se quisermos derrotar esse espírito de nível lendário. – eu o olhei apavorado – Não se preocupe, é uma classificação minha. Como você disse, jogador de RPG, lembra?

– Isso não é hora de brincadeira! – O monstro levantou, empunhando duas espadas.

Ian riu sem jeito.

– Desculpe, desculpe. – ele ficou sério – Vamos nessa! Terei que revelar minha espada! – Ian puxou uma katana de suas costas, a qual se revelou apenas quando estava totalmente desembainhada.

– Como isso é possível...

– É só concentrar um pouco de karma em sua espada e a deixar invisível da mesma forma que faz com seu guardião.

Me senti o pior de todos, pois não sabia nem deixar meu espírito guardião invisível.

Olhei para trás, Charlote havia conseguido tirar as garotas do ginásio, ficando apenas eu, Kiria desmaiada mais ao lado e Ian, com o enorme monstro a nossa frente.

– Roku! Vou tentar algo, vê se coopera!

Os dois espíritos lutavam com dificuldade contra o enorme inimigo.

– É bom mesmo, se não vamos ser esmagados! – Resmungou Roku, fugindo da espada do monstro.

– Tsc! – Juntei as mãos e comecei a rezar.

Ian caiu na gargalhada.

– Isso não vai adiantar! Procure a força em seu interior, não no céu. – ele ficou gargalhando – Cara, não acredito que você começou a rezar no meio de uma batalha! Que comédia!

Fiquei com o rosto vermelho de vergonha.

– Ca-ca-cala boca! Foi a única coisa que me veio a mente!

– Concentre seu karma em um ponto, estabilize e o divida organizadamente com seu guardião. Pense em algo que te deixa muito feliz ou com raiva, as vezes isso é um gatilho.

As últimas palavras de Suski me vieram a cabeça: “Ty... Eu te amo... Então... Fuja... Não pense em morrer!”

– Suski... – Senti meu peito apertar. Roku foi atingido por um soco do monstro, vindo parar no chão ao meu lado.

Ele levantou furioso.

– Ty, se vai fazer algo, faça logo! Estamos em sérios apuros!

– Me diga se sentir algo. – Comecei a tentar fazer como Ian falou. A cruz em meu pescoço começou a brilhar.

– Sim... Sim! – os olhos de Roku ficaram ainda mais vermelhos e uma aura vermelha começou a rodeá-lo – Agora sim! – ele sorria de forma assustadora – Eu sou Rinkashimikutamo Rokugawa, o maior assassino de todos os tempos! Monstro grandão, você desafiou meu poder, prepare-se para morrer!

– Vou ajudar! – Ian avançou contra o monstro em sincronia com Aegir.

A força de Ian era incrível, ele conseguiu atravessar a mão esquerda do monstro e prendê-la na parede com sua espada. Aegir fez o mesmo com a direita.

– Desapareça!! – A aura vermelha se concentrou no braço direto de Roku, que deu um salto e desferiu um soco no topo da cabeça do monstro, que afundou para dentro fazendo vários estralos agoniantes, desaparecendo em seguida em uma explosão de pontos brilhantes de cor roxo escuro.

Cai de joelhos, exausto.

– Acabou...

Ian guardou a espada, que desapareceu em suas costas, e veio até mim.

– Como esperado de um membro da família Akamura. O problema vai ser só... – ele olhou em volta, o ginásio precisaria de uma reforma após essa luta – Bem, vou indo. Até mais, Tyson.

Roku parou ao meu lado.

– Melhor irmos andando também antes que apareça alguém.

Concordei com a cabeça, mas não sem antes ir até Kiria e a pegar no colo, levando-a comigo. Ela estava desmaiada, então a levei para a enfermaria da escola, onde parti antes que me fizessem perguntas.

12:20 h.

Voltei para casa, não encontrando Charlote pelo caminho. Fiquei o dia todo em casa, jogando e comendo. Estava precisando relaxar um pouco, adiando o início de meu treino.

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