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Esqueceu a Senha?

Capítulos (1 de 12) 09 Sep, 2019

Capítulo 11: Informações

                A leitura do livro foi um pouco frustrante, Carlos imaginou que teria alguma informação útil, mesmo que “O Círculo Mágico” estivesse sendo considerado um livro fantasioso. Era apenas uma história de aventura contando a transformação de um jovem, que vivia uma vida normal até receber um chamado do dever, durante sua jornada ele precisa enfrentar diversos perigos para conseguir ter posse de um poder que poderia destruir o mundo. Nessas poucas horas que conseguiu ler a obra, não descobriu nada de mais, a única peculiaridade do livro era o fato de a história ser tratada como se fosse um jogo, com o protagonista fazendo alusões a isso e de vez em quando quebrando a quarta parede.

                Para saber se o conteúdo realmente iria ajudá-lo, precisaria fazer uma análise mais detalhada, descobrir se talvez existisse mensagens escondidas ou casos de verossimilhanças com a realidade. Tudo isso seria complicado e demorado, poderia existir um conteúdo antes necessário para lidar com possíveis mensagens do livro, ou até saber algo que seria impossível para algum leitor comum saber.

                Carlos pulou para a última página à procura do escritor dessa obra. Tinha apenas uma bibliográfica simples e que de nada contribuía para o que precisava saber, mas felizmente dizia onde essa pessoa nasceu, em uma cidade chamada Rubron. Seu nome e uma foto comum estavam estampados junto à descrição dele, era uma pessoa na meia idade que aparentava estar lendo algo enquanto utilizava um cachimbo, o nome Leonhard H. Schorer ficava embaixo da foto com uma letra no qual não se destacava muito. Pensou que talvez fosse importante encontrar essa pessoa.

                Em um momento reflexivo, o que veio a mente de Carlos era um incomodo. Se realmente precisava encontrar esse escritor, ficou se perguntando o porquê de Alessandra não ter dito isso antes, fazendo com que ele fosse pra Waft. Tudo aquilo poderia ser nada, assim como poderia ser o que precisava fazer. Mesmo não sabendo a resposta, ficou feliz de ter encontrado um rumo inicial para sua jornada. Era muito melhor do que não ter certeza de para onde deveria ir.

                Fechou o livro e o guardou no guarda-roupa, por não ter outro lugar seguro para guardar, ou nem mesmo possuir uma mochila, o rapaz praguejou e torceu para o livro se manter ali a salvo.

                Ao sair do quarto, Carlos avistou Kelvin novamente no sofá, se perguntou se aquele homem não trabalhava, pois parecia ficar o tempo todo na casa da médica. Serena estava ao lado conversando normalmente com o relojoeiro, o clima estava bem leve, o que para ele parecia bem estranho devido a atual situação. O rapaz se aproximou dos dois.

                — E aí, conseguiu algo daquele livro? — perguntou Kelvin mudando o olhar a ele.

                — Não... — Antes de continuar, Carlos foi interrompido pela curiosidade de Serena.

                — Do que estão falando? — Ela arqueou as sobrancelhas.

                — Comprei um livro que poderia ajudá-lo a conseguir o que veio buscar aqui.

                Carlos fez um olhar de reprovação para o relojoeiro, mas continuaram a conversar como se ele não estivesse ali.

                — E o que ele veio buscar aqui — indagou a médica curiosa. Tirou um cigarro do bolso e começou a fumar, seus olhos estavam atentos enquanto a fumaça saía de sua boca.

                — Não sei, ele não me disse. — Kelvin chegou mais perto da médica. Começaram a falar cada vez mais baixo.

                — Será que ele é algum fugitivo que coleciona livros? — ela perguntou quase cochichando.

                — Suspeito que sim, mas ele parece um pouco tranquilo para quem está fugindo

                — Ele deve esconder alguma coisa. — Ela parou de fumar para se aproximar de Kelvin.

                O Crescente ficou olhando aquele dois conversarem despreocupadamente, não estava entendendo nada daquela situação. Resolveu interrompê-los, pois já estava ficando um pouco irritado.

                — Acho que já devo ir invadir aquela mansão, não é mesmo? — disse Carlos cortando a conversa paralela.

                — Ah, sim, realmente — Serena olhou para o relógio na parede. — Já é bem tarde.

                — Irei com você, como o prometido. — Kelvin se levantou e caminhou em direção à porta. — Vamos.

Saíram da clínica rumo à mansão em que o rapaz precisava invadir. Os passos de Carlos foram interrompidos por uma abrupta parada do relojoeiro, que ficou olhando para o nada de cabeça baixa. Parecia estar hesitante em continuar, tamanha espera para continuar causou desconforto no Crescente.

                — Eu queria pedir desculpas. — Kelvin falou sem algum assunto prévio. Seu pedido de desculpas soou sincero apesar de Carlos não saber o porquê dele.

                — O que é isso tão de repente? — Ele não esperava por esse pedido de desculpas. Encarava o relojoeiro como um inimigo que, junto da médica, o enganou.

                — Entendo que o que estamos fazendo parece ser errado. — Kelvin baixou a cabeça entristecido. — Não é certo estarmos utilizando vidas humanas para conseguirmos o que queremos.

                — Você sempre pede desculpas para suas vítimas?

                — Sim. — Repentinamente se virou com um olhar caído, lembrou de inúmeros momentos iguais aquele. — Mas não os consideramos vítimas. Nós sempre pegamos pessoas que possam ser fugitivas.

                — Pessoas que possam ser fugitivas? — Carlos pensou em como insano eram aquelas pessoas, era como se tudo aquilo fosse normal para eles. — E qual seu critério para isso?

                — Eu analiso se a pessoa possui alguma aflição e pareça estar sendo perseguida, depois decido como agir. — Ele falava isso calmamente, quase como se fosse um plano que fizesse sentido.

                — E você determina a maldade de alguém apenas com essas informações? — Carlos fez uma cara de espanto. Tudo aquilo parecia absurdo demais, era algo que parecia fazer sentido apenas na cabeça deles.

                — Sim, não é muito normal alguém fugindo de membros da FMU. — Kelvin cruzou os braços, fez uma carranca diferente do habitual.

                Carlos ficou em silêncio por um breve momento. Estava um pouco espantado com o fato de Kelvin saber disso. Um pequeno suor escorreu por sua testa, mas decidiu não questionar, afinal, mesmo que isso já tivesse sido planejado, ele caiu.

                — Se está tão convicto de que está usando pessoas más para fazer seu trabalho, por que pede desculpas? — O Crescente notou o tanto de influência que a organização tinha na vida das pessoas, fazendo-as acreditar que ela era parâmetro para o bem.

                — Não sei. — Kelvin olhou para o céu com um semblante entristecido. — Talvez eu apenas esteja com a consciência pesada por tudo o que estou fazendo.

                — Se você acha isso errado, por que continua? — indagou Carlos após cruzar os braços.

                — Não tenho escolha. Serena ama essa cidade e a irmã, mesmo que para mim suas escolhas não sejam corretas, ficarei ao lado dela.

                — E por que você é tão devoto a ela? — Carlos estava achando estranho toda aquela contradição de sentimentos do relojoeiro, era como se nem mesmo ele soubesse o que estava pensando, seguindo devotamente as ideias de uma médica maluca.

                — Ela é como uma mãe para mim — Kelvin mantinha uma expressão de devaneio — ela cuida de mim desde que... minha mãe biológica me abandonou.

                — Entendo. — Na verdade, Carlos estava um pouco surpreso, não conseguia imaginar aquele brutamontes como um filho de Serena. Até achou a situação um pouco estranha. — Mas isso não justifica. Se você realmente gosta dela, não deveria parar toda essa ideia imoral?

                — Mesmo que diga isso, já tentei, então decidi que se não poderia convencê-la, não a deixaria sozinha.

                — Bom. — Ele suspirou, não queria estender mais a conversa. — Façam o que quiserem, não é meu dever ficar discutindo ética e moral com vocês.

                — Você tem razão. — Kelvin se virou e começou a andar apressado, interrompendo o assunto que não levaria a lugar algum. —  Vamos, vou te levar até a mansão de Lynda.

                Faltavam aproximadamente 71 horas para a toxina fazer efeito no corpo de Carlos. Andaram apressados para chegarem o mais rápido possível até a mansão. Não conversaram durante o caminho, o Crescente apenas o seguiu. Nesse momento, apenas pensava no que poderia fazer para derrotar aquela garota. Infelizmente, seus pensamentos se limitavam muito por não saber nenhuma informação sobre ela. Apenas sabia seu nome e aparência. E sabia que teria que matar uma garotinha.

                [Maria]: Eu não sabia que nessa época Carlos se importava tanto se iria matar uma garota ou não.

                [Bortoluzzo]: Sim. Ele era um pouco diferente antes. Na verdade, todos nós éramos

                [Maria]: Então aconteceu algo para vocês mudarem?

                [Bortoluzzo]: Aconteceram muitas coisas para termos mudado, ter que lidar com situações ao nosso redor nos muda constantemente. É isso que chamo de desenvolvimento de personagem.

                [Maria]: Vocês desenvolveram para pior, ainda não acredito que ela queira ouvir sua história, vocês são apenas um mau exemplo.

                [Bortoluzzo]: Ser mau exemplo ou bom exemplo, tanto faz, qualquer história merece ser contada e acho que qualquer desenvolvimento é válido. É isso que nos torna reais.

                [Maria]: Reais? O que quer dizer com isso?

                [Bortoluzzo]: Reais para os leitores.

                [Maria]: Não acha que tendo personagens reais eles irão se afastar? As pessoas procuram fugir do real ao lerem uma história.

                [Bortoluzzo]: Está certa, mas ao mesmo tempo elas querem se identificar com o personagem, ou ao menos entendê-lo. Amá-lo ou odiá-lo, não importa no final das contas, tudo o que o querem é ter alguém para sentirem empatia.

                [Maria]: Está dizendo que alguém sentirá empatia pelo o que o Carlos está fazendo?

                [Bortoluzzo]: Não, isso é apenas algo imoral, ninguém irá admitir gostar disso. Tentarão entendê-lo, ao passo de que demonstrarão apatia sobre isso.

                Antes de enfrentar Lynda, Carlos precisava fazer um planejamento. Seria tolice simplesmente ir até ela e lutar. Primeiro precisava observar o cenário em que ela se encontrava e criar uma estratégia para derrotá-la no menor tempo possível e com a menor quantidade de problemas possíveis.

                Após um tempo chegaram a seu objetivo. A mansão de Lynda não era muito longe da clínica de Serena. Levaram apenas vinte minutos para chegar.

                A mansão era enorme. Parecia bem antiga, mas estava em um bom estado de conservação. Era larga horizontalmente, com luxuosas janelas preenchidas por todos os lados. Seu telhado possuía uma textura avermelhada; velha em sua maior parte, mas ao mesmo tempo vistosa. Pequenas colunas cinzas e arcaicas contornavam o telhado. As chaminés eram grandes o suficiente para serem notadas em meio a enorme mansão; seus tijolos acinzentados combinavam com a atmosfera do lugar. A porta era um pouco chamativa; algumas colunas de pedra eram convidativas e sem cor; contrastavam com a beleza verde do jardim.

                A rua estava silenciosa. Não havia nem uma viva alma. Era como se as pessoas tivessem medo de passar por aquele lugar. Não existia nem ao menos um morador de rua. Carlos não se surpreendeu, imaginou que com todos aqueles boatos as pessoas se intimidariam. Isso era um ponto a seu favor, pois não teria ninguém para atrapalhá-lo.

                — Chegamos — disse Kelvin animado, escandaloso como sempre, o semblante triste e sério havia desaparecido. — Esta é a mansão de Lynda.

                — Silêncio — sussurrou Carlos enquanto andava lentamente. — Temos que ter discrição para o que vamos fazer aqui.

                — O que faremos exatamente? — Ele imitava o andar de Carlos. “E andar assim não é um pouco indiscreto?” disse o relojoeiro a si mesmo.

                — Nós iremos apenas observar — respondeu ele enquanto caminhava.

                — Observar? É só isso?

                — Sim. Como eu disse, preciso ter um plano para poder agir. Seria suicídio invadir essa mansão sem saber das habilidades do meu inimigo ou qualquer outra coisa que me dê vantagem.

                — Certo, farei silêncio então.

                Carlos avistou um banco de madeira em frente à mansão. Era um bom lugar estratégico para se sentar e observar. Se dirigiu com Kelvin para o banco calmamente tentando não levantar suspeitas. Achou um jornal no chão e o pegou antes de ambos se sentarem no banco. Colocou o jornal cobrindo seu rosto e começou a observar a mansão estreitamente por cima dele.

                Foi um trabalho demorado. Carlos ficou olhando por exatamente 10 minutos. Descartou o jornal e colocou a mão no queixo pensativo enquanto encarava o local.

                “Estranho. Existem três guardas posicionados na frente da mansão. Um no canto direito, outro no canto esquerdo e um quase no centro. Posso deduzir que existam a mesma quantidade de guardas na parte de trás dela.” — Começou a observar com um olhar sério e concentrado. Notou que havia algo errado com tudo aquilo. — “Esses guardas não mexeram um dedo desde que apareci aqui. Também não olharam para mim, mesmo eu parecendo suspeito. Duas pessoas sentadas em um banco de uma rua vazia em frente a uma mansão. Acho que seria algo a se estranhar.

                — Qual o problema? — perguntou Kelvin enquanto observava o rosto sério de Carlos.

                — Tem algo suspeito nesses guardas. — Ele ainda mantinha os dedos no queixo. Estava pensando demais naquilo.

                — Esses são os guardas pessoais de Lynda. São sempre vistos na mansão ou escoltando ela. É algo normal. — O relojoeiro não sabia onde ele queria chegar com todas aquelas suspeitas.

                — Você tem certeza? Por que eles não se mexem? — Carlos estava cada mais com dúvidas. Tirou a mão do queixo e olhou para Kelvin.

                — Ora. Acho que eles realmente levam o serviço a sério, he he! – Kelvin riu escandalosamente, mas logo pediu desculpas porque se lembrou de que não era para fazer tanto barulho.

                — Pode até ser, mas é bom pensar nas possiblidades. Se eles forem simples guardas podemos derrotá-los, mas se forem algo a mais nós precisaremos estar preparados.

                — Se você está dizendo...

                — Espera aí. — Carlos se levantou, olhou para o chão e disfarçadamente pegou uma pedra. — Vou testar algo.

                — Ei. O que pretende fazer? — Carlos o ignorou e não respondeu, apenas saiu andando lentamente com a pedra escondida na mão.

                                                                  ======================

                Lynda estava confortavelmente sentada em um banco, jogando xadrez com seu mordomo. Usava um vestido preto e branco cheio de babados com detalhes em rosa ornamentados simetricamente. Era algo bem chamativo para uma criança, mas apesar de ser tão infantil ainda possuía certa elegância. Seu cabelo era loiro, grande e dividido ao meio formando duas longas madeixas que eram presos com duas fitas brancas.

                Lynda tinha uma expressão de superioridade no rosto. Também parecia estar concentrada. Olhava tão fixamente para o tabuleiro de xadrez que parecia não existir mais nada no mundo além dele. Sua concentração parecia inabalável.

                Teve que fazer uma pausa, isso pareceu irritá-la muito. Sua expressão mudou drasticamente ao notar que alguém estava lá fora observando a mansão.

                — Geffrey. — Ela olhou para o mordomo que estava jogando com ela. Era um homem velho. Sua pele era morena, seu cabelo grisalho e bem curto. Vestia uma típica roupa de mordomo, também parecia ser bem elegante. — Tem alguém observando a mansão.

                — Eu checarei isso, se me permite. — Ele formalmente colocou a mão direita no peito.

                — Sim, claro. Continuaremos depois.

                O mordomo se levantou e reverenciou-se. Andou calmamente até a janela e observou o homem que estava espiando. Ele estava sentado no banco lendo um jornal.

                — É apenas um homem lendo um jornal, madame. Se isso a incomoda, eu posso cuidar dele.

                — Não é necessário. Enquanto ele estiver em minha visão não será um empecilho. O grande problema — ela olhou seriamente para o tabuleiro — é que preciso me concentrar no jogo. Se eu observar essa pessoa poderei perder cinco por cento da minha concentração.

                — Eu não acho que isso será um problema, madame. Eu não ganharia nem com setenta por cento de vantagem.

                Lynda olhou para o mordomo e fez um olhar pronto para dar um sermão.

                — Quando jogo, Geffrey, gosto de dar o meu máximo. — A garota cruzou os braços aborrecida. — Não temos a chance de evoluir quando não jogamos para valer. Esses 5 por cento fazem diferença.

                — Eu entendo. O que quer que eu faça?

                — Nada. Vamos continuar a jogar e observar. É possível que ele vá embora, e se fizer algo, lidaremos com ele.

                Geffrey voltou a se sentar na cadeira e retomou o jogo de xadrez com Lynda. Ambos se concentraram enquanto a garota mantinha seus olhos na pessoa suspeita.

                — A7 para C6 — disse Lynda enquanto movia o cavalo. Estava observando o rapaz lá fora que parecia estar fazendo um movimento suspeito.

                No momento em que ia mover a peça de xadrez. Algo que a garota não esperava aconteceu. Uma pedra quebrou a janela. Estilhaços voaram por toda a parte enquanto um enorme barulho se alastrou pelo quarto. A pedra caiu certeiramente na mesa de xadrez derrubando várias peças. A surpresa fez com que Lynda desse um pequeno grito agudo.

                — O-o que foi isso? — Ela olhou para a pedra em cima do tabuleiro. Estava suando um pouco por causa do susto. — U-uma pedra.

                Imediatamente o mordomo correu para a janela e tentou pular, mas foi parado por Lynda.

                — Espere, Geffrey. Foi aquele homem suspeito. — Lynda tentou se recompor do susto que tomou respirando fundo.

                — Eu irei atrás dele, madame.

                — Não é necessário. — Ela se levantou, caminhou delicadamente até a janela, tomando cuidado para não se machucar com os estilhaços de vidro. Olhou pela janela quebrada, avistou duas pessoas correndo na rua. Ficou pensativa por um momento, tentando imaginar o porquê daquilo. Olhou para os guardas que estavam lá em baixo e os analisou. Após um tempo descobriu. — Entendo, então ele descobriu. Eu não esperava que alguém fosse fazer isso.

                — O que ele descobriu, jovem senhorita? — O mordomo estava curioso para saber o que ela havia descoberto. Sempre ficava entusiasmado por dentro ao ouvir as análises de Lynda.

                — Uma de minhas habilidades. — Ela voltou para onde estava a mesa de xadrez — aquele homem fez o movimento inicial e está em vantagem. Ele voltará.

                — A senhorita tem certeza? — indagou o mordomo enquanto limpava os estilhaços de vidro.

                — Sim. E acho que essa noite vai ser bem divertida — Lynda sorriu. Algo que Geffrey não havia visto por muito tempo. Pegou a peça do rei branco e a olhou fixamente. Estava ansiosa pela sua partida contra aquela pessoa.

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                Carlos e Kelvin estavam correndo freneticamente há algum tempo. Ambos estavam fadigados por correrem tanto. O relojoeiro estava meio confuso com toda aquela situação. Não havia entendido o porquê de Carlos ter jogado uma pedra na mansão de Lynda sendo que ele mesmo havia dito para serem discretos.

                — O que. — Kelvin tentava falar enquanto respirava ofegante. — O que você fez? Não era para sermos discretos?

                Carlos parou por um momento e recuperou o fôlego. Pediu para Kelvin esperar, também aproveitou para se recuperar.

                — Acho que eles não estão nos seguindo — disse Carlos enquanto olhava para trás a procura de inimigos.

                — Então por que estávamos correndo tanto?

                — Sei lá – Carlos deu de ombros. — Pode ser que eles nos sigam, não é? Não acho que alguém ficaria feliz por terem quebrado o vidro de sua casa.

                — Pode me explicar o que foi aquilo? — O relojoeiro estava cada vez mais impaciente por uma explicação.

                — Espere aí. — Carlos respirou. — Vamos andando enquanto eu explico. Preciso planejar o que fazer.

                — Minha casa fica mais perto do que a de Serena, podemos poupar tempo indo para lá.

                Os dois conversavam a caminho da casa de Kelvin. A rua estava um pouco vazia por conta do horário. Apenas algumas pessoas andavam por aquele lugar. Não havia nenhum sinal de pessoas os seguindo, então estavam confortáveis para falar sobre os planos.

                — Enquanto observava. — Carlos começou a relatar o que descobriu. — Notei que havia algo de errado com aqueles guardas.

                — E o que é? Não notei nada. — Kelvin fez força para se recordar de algo, mas foi em vão.

                — Eles pareciam bem estáticos e, quando eu joguei a pedra na janela, nenhum guarda esboçou reação. É minimamente comum que alguém reaja de alguma maneira quando vê algo acontecendo.

                — Isso quer dizer o que? — Kelvin se lembrou de que os guardas realmente não se mexiam, mas não sabia onde Carlos queria chegar com aquilo. Ainda mantinha a expressão de dúvida no rosto.

                — Que talvez eles sejam marionetes. — Carlos falou com naturalidade, mas o relojoeiro fez uma cara de espanto.

                — Marionetes? Isso não é um pouco absurdo? — Nesse momento ele achou que o rapaz era louco.

                — De onde venho não é. — Seu olhar era convincente o suficiente para o relojoeiro não lhe questionar mais. — O que importa é que consegui uma informação, e isso nos dá uma vantagem.

                — E você pretende usar essa informação como?

                — Te direi depois. Posso contar com você? — Carlos estava um pouco apreensivo, mas não demonstrou isso. Não gostava da ideia de ter que contar com a ajuda dele.

                — Hehe, mas é claro — Kelvin deu sua famosa risada contagiante que, apesar de tudo, não deixou Carlos mais confortável. — Estamos quase chegando em minha casa.

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